quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Bem da forma que penso... e mais...

Traição e semântica
Martha Medeiros

Quando alguém diz, por exemplo, “João traiu Renata”, a primeira coisa
que me vem à cabeça é que João espalhou um segredo cabeludo que Renata
havia lhe confiado, ou então que João entregou Renata à polícia, ou ainda que
João fugiu com todo o dinheiro que Renata havia economizado, que crápula.
Nunca penso que João transou com outra mulher.
Trair pressupõe que algo foi feito contra alguém. E sexo não é algo que
seja feito contra uma terceira pessoa. Sexo é sempre a favor, sempre pró, e
sempre egoísta – não diz respeito a quem ficou do lado de fora do quarto. Fazse
sexo para dar e receber prazer, e não para prejudicar quem quer que seja.
Traição é uma palavra dura demais para ser usada como sinônimo de
infidelidade e adultério.
A palavra adultério é até romântica, remete a encontros clandestinos,
beijos roubados, vidas secretas, roteiros de cinema, letras de samba. O
adultero – apesar de ter que carregar esse palavrão nas costas – é na verdade
um alegre.
Infidelidade já é uma palavra mais burocrática, boa para ser usada em
tribunais, alegar quebra de contrato. É palavra comprida e possui certo status,
parece coisa de estelionatário graúdo, gente co conta em paraíso fiscal –
pensando bem, “conta em paraíso fiscal” é uma metáfora que se aplica
perfeitamente a romances paralelos. Mas estelionato é crime, e infidelidade
não o é. O infiel é um inofensivo, vende fácil seus carros usados.
Os infiéis não metem medo, os adúlteros possuem um chame boêmio,
então, na falta de uma palavra mais intimidante, apela-se para “traidores”, a
fim de arrancarmos deles alguma culpa, remorso, vergonha. Mas que ninguém
se engane: a palavra traição esta combinando cada vez menos com a realidade
sexual vigente. Ninguém esta aqui batendo palma para a poligamia. Estou
apenas refletindo sobre a adequação e inadequação de certos vocábulos.
Traição? Convém enfrentar os revezes amorosos sem mexicanizar demais a
cena.
No início de todo romance, homens e mulheres se satisfazem
plenamente um com o outro, mas com o passar do tempo a relação passa a
satisfazer apenas parcialmente - e parcialmente pode ser mais do que
suficiente quando inclui amizade, cumplicidade, diversão, leveza. Porém, a
parte que começa a faltar – a sedução – deixa o campo aberto para novas
experiências, que podem acontecer ou não. Nada disso tem a ver com desamor.
Pode-se amar alguém e sucumbir a uma aventura. Não estou dizendo nenhuma
novidade, estou? Há algum inocente no recinto?
Traições pegam você desprevenido. A infidelidade, ao contrario, é
sempre uma possibilidade a ser considerada, mesmo quando parece
improvável. E não, não há nenhum inocente no recinto.

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E vou mais além...
Algumas pessoas tem a grande chance na vida, de amar duas pessoas ao mesmo tempo. Sim AMAR e por que não?
Quantos casos sabemos de um casamento e uma relação estável, ao mesmo tempo?
Como diz Martha, "algum inocente no recinto?"
Em algumas culturas, um homem tem até 12 esposas, talves ele ame mais algumas, que outras, mas estaria ele traindo qualquer uma de suas esposas? Sendo infiel?
Vai da cultura e da grandiosidade do sentimento de cada um

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um belo vídeo...